segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A VIDA É DURA PRA QUEM É MOLE(parte 01)



Morava eu em frente a uma imensa área pública,e sempre que podia colocava um banquinho na calçada de  minha  casa e ficava observando a paisagem e os pequenos animais que ali viviam.Havia um imenso cupinzeiro abandonado,ou seja,os moradores e construtores originais já não moravam mais ali.Os moradores agora eram enormes calangos,gordos,esverdeados,e com grandes caldas,esses se alimentavam de todo tipo de insetos,as vezes era possível perceber um diálogo entre eles,um se colocava defronte ao outro e balançando a cabeça emitiam um som estranho:(tsss tsss tsss),de qualquer forma não posso dizer o que falavam,pois estavam um pouco longe e o meu calanguês realmente não é dos melhores.

Havia do lado do cupinzeiro uma pequena árvore de cascas grossas e galhos retorcidos,nessa árvore sempre pousava um pequeno pássaro amarelo,ele ficava por ali,olhava pra um lado,olhava pro outro e quando se sentia seguro descia e começava a comer.Um dia fiquei curioso pra saber o que ele comia,fui até lá pra ver o que era,não encontrei nada,só o que tinha ali eram pequenas pedras redondas,mas o bichinho sempre voltava descia e comia,então peguei um binóculo emprestado e finalmente pude ver o que ele comia,eram as pedras;as pequenas e redondas pedras.Sendo assim,acho que passarinho que come pedra sabe o fiófo que têm.
Certo dia peguei meu banquinho e como sempre fui lá pra fora ver a vida como ela é,mas desta vez algo estava diferente,percebi que a população de calangos estava bem menor,o passarinho come pedras também não estava mais por ali,foi ai que observei na forquilha da árvore uma coruja cinza que se misturava aos galhos numa camuflagem perfeita;dizem que corujas só caçam a noite,mas essa parecia não se importar muito com isso.Lá de cima da árvore,deu um rasante e lá se foi ela com um enorme calango nas garras.Percebi então o porque da população de calangos ter diminuído tanto.A coruja fez daquele cup
inzeiro,seu restaurante particular.Até que por fim só restou um calango;este sempre escapava,pois ficava próximo a sua toca e quando percebia a coruja se escondia rapidamente;acho que mesmo na tragédia é possível aprender alguma coisa,no caso do calango,ele aprendeu com a morte de seus parentes a não ficar de bobeira com uma coruja carnívora por perto.
O calango permaneceu por ali,morando no cupinzeiro;a coruja,invocada com aquele bicho,resolveu morar ao lado numa toca abandonada e esperar a melhor oportunidade
para papar o seu vizinho.Assim a vida seguiu,com aqueles estranhos vizinhos morando lado a lado.
Sempre que a coruja saia o calango aproveitava pra sair também e se alimentar;assim foi por um longo tempo.
Certo dia ouvi um grande tumulto,peguei meu banquinho e fui lá pra fora,naquele dia tinha eu bastante tempo,pois era justo o dia da minha folga,havia um grande movimento,muitos veículos estacionados,vários homens de capacete branco,com roupa social e gravata falavam entre se,apontavam para outros,mediam o terreno com

aparelhos eletrônicos e assim se seguiu por todo o dia,quando por fim colocaram uma grande placa onde se lia:(PROJETO MINHA CASA MINHA VIDA).
Passado alguns dias lá estava eu em minha humilde residência,quando senti o chão tremendo,fui ver do que se tratava,então me deparei com dezenas de operários,muitos caminhões e máquinas pesadas;essas máquinas estacionaram ao lado do terreno e vieram os engenheiros com suas planilhas.Fiquei temeroso pelos meus amigos moradores do cupinzeiro,quando de repente foi dada a ordem para que as máquinas abrissem as ruas,logo de cara a primeira coisa que foi terraplanada,foi justamente o cupinzeiro;mas antes que isso acontecesse a coruja levantou voo e pousou no topo de um poste;o calango não teve a mesma sorte,a máquina veio,passou por cima e alisou tudo.A coruja lá de cima só ficou olhando,dava até pra adivinhar
seus pensamentos:(É perdi minha casa mas aquele calango se ferro geral).
De repente um montinho de terra começou a se mexer e olha só quem saiu de lá,nosso amigo calango,a coruja mais que depressa,deu um rasante em direção a ele,mas por azar dela exatamente naquele momento,um trator atravessou na frente e ela deu de cara com a hélice do motor;o resultado foi que não sobrou muita coisa da nossa amiga e falecida coruja;quanto ao calango,mais uma vez ele se safou.Desta maneira a vida é dura pra quem é mole.

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